Model Context Protocol (MCP): organizando a memória e a ação de agentes de IA em ambientes complexos
- Edson Pacheco
- 11 de nov.
- 4 min de leitura

À medida que os agentes de inteligência artificial se tornam mais autônomos, colaborativos e contextuais, surgem novos desafios sobre como organizar memória, percepção e tomada de decisão em escala. O que antes era um fluxo de prompt–resposta, hoje demanda uma arquitetura capaz de sustentar múltiplos modelos, múltiplas tarefas e múltiplas interações — sem que tudo se perca no meio do caminho.
É nesse contexto que surge o Model Context Protocol (MCP): uma proposta emergente para estruturar a gestão de contexto, orquestração e interoperabilidade entre modelos e agentes, especialmente em ambientes com múltiplas instâncias de IA operando em paralelo.
Mais do que uma tecnologia específica, o MCP representa uma filosofia arquitetural: como organizar o raciocínio de sistemas cada vez mais distribuídos, dinâmicos e capazes de aprender — sem perder coerência, rastreabilidade ou segurança.
O que é o MCP, afinal?
O Model Context Protocol é uma especificação projetada para:
Gerenciar contexto compartilhado entre múltiplos agentes e modelos;
Permitir persistência, atualização e recuperação de memória de forma auditável;
Organizar interações complexas, permitindo que modelos especializados (por exemplo, um modelo de visão computacional, outro de linguagem e outro de regras) colaborem em uma mesma tarefa;
Padronizar a comunicação entre componentes de IA, como se fosse um “protocolo de rede” para raciocínio distribuído.
A analogia mais próxima seria um sistema operacional para um ecossistema de agentes — algo que oferece estrutura para que diferentes inteligências possam conversar, cooperar e evoluir juntas, com consistência.
Por que o MCP se tornou necessário agora?
Nos primeiros anos da IA generativa, o foco estava em modelos isolados respondendo a prompts únicos. Mas os casos de uso avançaram.
Hoje, vemos arquiteturas com:
Agentes especializados em diferentes tarefas;
Memórias de longo prazo que influenciam decisões futuras;
Atores autônomos que operam em ciclos, com planejamento e replanejamento;
Sistemas que integram IA com bases de dados, APIs e sensores físicos.
Nesse cenário, não basta que cada agente tenha sua própria memória local. É preciso ter uma estrutura de contexto compartilhado, versionado, seguro e interpretável.
O MCP surge como um protocolo para orquestrar essa complexidade, oferecendo uma forma semântica e técnica de garantir que diferentes peças do sistema “leiam e escrevam” o mesmo contexto de forma confiável.
Como funciona o MCP na prática?
Embora o padrão esteja em evolução, a arquitetura de um MCP típico inclui:
1. Context Store (Memória Estruturada)
Um repositório de contexto, com granularidade e escopo definidos. Isso pode incluir:
Objetivos da tarefa;
Resultados intermediários;
Preferências do usuário;
Histórico de decisões;
Restrições operacionais.
2. Access Policies
Mecanismos para definir quem pode ler, escrever ou modificar diferentes partes do contexto — essencial em ambientes com múltiplos agentes ou com diferentes níveis de confiança.
3. Versionamento e Rastreamento
Cada alteração no contexto gera uma nova versão. Isso permite auditar decisões, restaurar estados anteriores e identificar desvios.
4. Orquestração Dinâmica
Um agente orquestrador ou gerenciador de fluxo (às vezes também um LLM) que decide:
Qual agente deve atuar;
Quando um resultado é suficiente;
Quando uma tarefa deve ser interrompida, dividida ou reiniciada.
Quais são os benefícios práticos?
Eficiência escalável: Ao evitar repetições e consolidar conhecimento entre agentes, o MCP reduz latência e custo computacional.
Melhor coordenação: Fluxos complexos — como os encontrados em atendimento ao cliente, logística, supply chain ou operações financeiras — passam a ser gerenciáveis com menos intervenção humana.
Rastreabilidade e compliance: Em setores regulados, como saúde, governo e finanças, manter histórico de decisões e justificativas não é opcional — é mandatório.
Segurança contextual: Com políticas de acesso ao contexto, é possível proteger informações sensíveis mesmo em sistemas com IA aberta ou em camadas.
Paralelos com outras abordagens
Embora o MCP ainda esteja em maturação, paradigmas semelhantes vêm sendo explorados por arquiteturas como:
LangChain / LangGraph: que organizam fluxos de agentes com memória, mas focam mais em aplicações do que em padronização de protocolo;
Semantic Kernel (Microsoft): oferece uma base para coordenação de habilidades (skills) entre agentes, com algum suporte a memória e encadeamento;
AutoGPT e derivados: demonstraram o valor de ciclos de pensamento autônomo, mas sofrem sem estrutura de memória persistente;
Frameworks baseados em Vector DBs: que oferecem memória semântica, mas não necessariamente estrutura de contexto relacional ou versionamento.
O MCP, nesse sentido, pode ser visto como uma camada de abstração superior, focada em governança, interoperabilidade e raciocínio contínuo.
Aplicações práticas
1. Operações de campo (Field Services)
Agentes que coordenam equipes técnicas em campo, com base em SLA, peças disponíveis, histórico de incidentes e localização em tempo real.
2. Plataformas de atendimento inteligente
Vários agentes colaboram: um interpreta o pedido do cliente, outro verifica status no ERP, outro calcula viabilidade, outro redige a resposta. O MCP garante que todos compartilhem o mesmo “fato-base”.
3. Supply Chain Dinâmico
Diante de mudanças (clima, atrasos, disponibilidade), agentes reavaliam planos logísticos e fazem simulações de rotas — tudo baseado em um contexto comum.
4. Educação personalizada
IA que acompanha progresso do aluno, ajusta materiais, agenda aulas e fornece feedback — com memória contínua entre sessões, protegida por políticas e explicável aos educadores.
Desafios a serem enfrentados
Padronização ainda incipiente: Como o MCP é emergente, há pouca interoperabilidade entre implementações.
Custo computacional: Manter contexto compartilhado em sistemas de larga escala exige engenharia de performance.
Governança ética: Um sistema que armazena contexto pode ser poderoso — e também perigoso — se não for projetado com transparência e supervisão.
Conclusão
À medida que sistemas de IA se tornam mais distribuídos, contínuos e interdependentes, prover contexto consistente, auditável e seguro se torna tão importante quanto a própria capacidade de inferência.
O Model Context Protocol (MCP) é uma resposta a essa nova demanda: não apenas mais IA, mas IA que pensa em rede, com memória estruturada e decisões organizadas.
Se agentes são o novo modelo computacional, então o contexto é o novo sistema de arquivos.
Referências
McKinsey & Company (2023). The Economic Potential of Generative AI.
ThoughtWorks (2024). Digital Fluency and AI-Driven Architecture.
Microsoft (2023). Semantic Kernel: AI Orchestration Patterns.
LangChain Docs. Memory, Agents, and LangGraph.
OpenAI (2023). Function Calling and Agent Frameworks.
Carnegie Mellon. Multi-Agent Systems and Distributed Reasoning (2024).